Mochila nas costas e liberdade
Quem nunca pensou em pegar a mochila, encher com algumas roupas, colocar nas costas e sair pelo mundo, sem destino, sem limites, apenas viajando? Para a maioria das pessoas isso não passa de sonho, imaginação, mas existem aventureiros, os chamados mochileiros, que tornam esse sonho em viagens inesquecíveis. "Grana" para esses turistas não é problema.
Eles não deixam de realizar seu hobby favorito por causa de limitações financeiras. Esticam de um lado, economizam do outro, passam alguns sufocos, mas viajam, como fez o estudante universitário Bruno Moura.
Todo ano Bruno programa uma viagem diferente e sai pelo mundo. "Ano passado queria viajar para a Bahia. Como não tinha dinheiro para esse destino, analisei os preços das passagens rodoviárias e escolhi Curitiba pelo valor e porque não conhecia o sul do país", contou Moura. Assim começou a sua viagem que, a princípio, seria apenas para a capital paranaense, mas como ele mesmo afirma, "mochileiro não tem rotina e limites", portanto, nada impede alterações de planos. Bruno visitou Foz de Iguaçu, depois Puerto Iguazu, do lado argentino, e Ciudad del Este, no Paraguai, além de passar por São Paulo. "Viajar sem roteiro é a melhor coisa que existe, me sinto sem limites, esperando o inesperado", traduziu.
As irmãs Patrícia e Daniela Fontes também se aventuraram pelas estradas baianas e foram fazer uma "viagem de irmãs", como intitularam. O destino foi Morro de São Paulo. Como a "grana" era pouca, elas pretendiam ficar em uma área de camping, mas, como imprevistos acontecem na vida de mochileiros, esse plano foi mudado porque uma das garotas adoeceu. "Como minha irmã ficou doente, tivemos que ficar em um lugar mais confortável. Conseguimos uma casa de colonos, que nos deixou usar a cozinha para preparar alimentos mais leves e saudáveis", contou Patrícia Fontes.
O roteiro não é o único afetado por questões financeiras. O transporte, a hospedagem e alimentação se modelam ao bolso do viajante. O mochileiro Bruno Moura pretendia viajar para Curitiba de carona, mas desistiu da economia, porque iria sozinho e pensou nos riscos que iria correr. Já o jornalista Jeferson Jess não teve esse medo e realizou duas etapas da sua expedição "Carona Brasileira". Na primeira fase, ele saiu de Curitiba e foi até Salvador em companhia de uma amiga, passando por São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Na segunda etapa, desbravou os segredos da Chapada Diamantina (BA), conhecendo as cidades de Lençóis, Caeté, Igatu, Mucugê, Andaraí, Ibicoara e Rio de Contas.
Procura-se companheiro de viagem
Encontrar uma companhia para uma aventura com mochila nas costas não é problema para os mochileiros, basta acessar o site O viajante e disputar um amigo de viagem no "classificado on line". Tem mulheres, homens, jovens, adultos e coroas, brasileiros, franceses, italianos, gente de todas as nacionalidades. É só dizer o destino, a data da viagem, a forma de transporte e o objetivo ou, simplesmente, dizer que quer viajar e procurar alguém que decida tudo isso por você.
Assim fez o jovem Alberto Fernandes. No seu classificado, disse apenas que queria viajar para qualquer lugar do Brasil, pois para ele qualquer lugar tem uma história para ser vista e fotografada e, "o mais importante é curtir a vida e conhecer o mundo", comentou. Já o mochileiro Bruno Moura deu uma dica do que pretendia fazer. Ele se candidatou a fazer uma expedição saindo do Rio de Janeiro até Ceará, deixando brechas para outros roteiros, e já recebeu um e-mail de uma interessada a acompanhá-lo até Machu Pichu, no Peru.
O fotógrafo André Calderado disse que sua aventura já está delimitada. "Vou fazer um ensaio fotográfico pela costa brasileira, saindo de Belém e percorrendo as vilas de pescadores e registrando a cultura local e praias dos 8.500km que passarei", explicou Calderado. Apesar do passeio de André já está definido e ser a trabalho, já existem cinco pessoas interessadas em compartilhar esse momento com ele.
Perigos do caminho
Essa vida de mochileiro também tem seus problemas. "Como sou fotógrafo, sempre corro risco de roubo do meu equipamento, que chama muita atenção", lembrou André Calderado. Mas o roubo não é a única coisa que preocupa o viajante. Como ele pretende viajar com amigos virtuais, desconhece o caráter e a personalidade dessas pessoas. "Para evitar problemas, pego o nome antes e verifico se tem algum registro na polícia, além de tentar conhecer a pessoa, sua vida, família, casa e rotina, antes da viagem", ensinou o mochileiro.
A delegada da Delegacia de Turismo de Salvador (Deltur), Maritta Souza, disse que essa tática não garante a segurança do viajante. "Só crimes mais graves constam no sistema nacional das delegacias. Portanto, se o companheiro de viagem for um ladrão ou ter cometido o ato há pouco tempo, esse delito pode não estar registrado na delegacia que o viajante verificar", explicou a delegada, lembrando que conferir a rotina do amigo virtual também não diminui o risco, já que o companheiro poderá apresentar uma vida e família falsas.
A delegada disse que a melhor forma dos mochileiros se prevenirem do perigo é não viajar com desconhecidos, pois podem ser assassinos ou ter algum tipo de distúrbio mental. Marcelino Verdi concorda com Maritta Souza e afirmou só viajar com pessoas muito próximas. Além disso, existem outros riscos enfrentados pelos mochileiros, como pegar carona ou deixar à mostra objetos de valor. A delegada de turismo também alerta para a ingestão de bebidas servidas por estranhos. "Não é recomendável tomar bebidas que ficam expostas enquanto se vai ao banheiro, por exemplo. Alguém pode colocar drogas", alertou Souza.
Fonte: Correio da Bahia